As dificuldades da cajucultura em tempos de pandemia


O continente africano, maior produtor mundial de castanha de caju, amarga a condição de ser um grande exportador de castanha in natura, num momento em que os grandes processadores mundiais, Vietnã e Índia, estão com as portas fechadas para novas aquisições. Tudo isto acontecendo em pleno período de colheita em alguns países. É o caso da Guiné Bissau (África ocidental), por exemplo, onde a castanha de caju responde por mais de 90% das exportações do país e tem na Índia e Vietnã os seus principais compradores.

Na Índia, a situação também não é das melhores. Com o lockdown imposto pelo governo, as indústrias de processamento tiveram de encerrar as atividades enquanto a castanha da nova safra bate à porta e faz fila para entrar nos escassos armazéns a fim de não apodrecer no campo.

Ainda na África Ocidental, a situação de Gana não é diferente. A incipiente indústria de processamento local desligou suas máquinas porque não existem compradores para a castanha processada. Por sua vez, a exportação de castanha in natura amarga os efeitos do Covid-19. No início deste ano, o preço da castanha no mercado internacional era de cerca de US $ 1.500 por tonelada; atualmente está em cerca de US $ 950, uma queda de 63%. À semelhança do que ocorre com outros países africanos, o fechamento de mercados de exportação como o Vietnã e a Índia exerce um impacto devastador sobre a subsistência de milhares de cajucultores ganenses.

Mas os impactos do Covid-19 não se restringem apenas a além-mar. No Brasil, terra natal do cajueiro, grande parte da indústria de processamento (castanha e pedúnculo) também fechou as portas. Os reflexos certamente recairão sobre os preços que vigorarão na safra que se avizinha. Lamentavelmente, a invisibilidade do setor não permite aos que formulam as políticas públicas enxergarem a necessidade de salvaguardas para este primo pobre do agro nacional.
_______________
PS: Já havia escrito este artigo quando li a nota de repúdio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do do Ceará (FAEC), manifestando a insatisfação por ter sido excluída do Grupo de Trabalho Estratégico instituído pelo Governo do Ceará para apresentação de Plano que promova a retomada da atividade econômica no estado. Pelo visto, a invisibilidade não é uma característica exclusiva do setor da cajucultura.

Comentários