Crise na cajucultura (3)

A indústria de castanha está importando a matéria-prima da África. Mas é preciso que os governos e a iniciativa privada se empenhem para que a cajucultura continue gerando os milhares de empregos e renda que gera todos os anos.

A entrada do Brasil no negócio mundial da compra da castanha de caju e a assinatura de um protocolo de intenções para promover o setor em todo o mundo são considerados um marco pelo presidente do Sindicato das Indústrias de Beneficiamento da Castanha de Caju do Ceará (Sindicaju), Lúcio Carneiro.
“Nós éramos uma indústria regional exportadora. Agora as regras do jogo mudaram. Nós somos de fato um setor que está tendo uma abrangência muito maior porque a gente já começa a atuar num outro palco que é o da exportação, da importação e da celebração de contratos internacionais com repercussão e alcance impensável”, disse Lúcio Carneiro.

Assinado no dia 21 de maio de 2011, o protocolo de intenções visa a promoção do setor de castanha de caju para a preservação do meio ambiente e a manutenção de 20 milhões de empregos em mais de 20 países produtores no mundo. Há ainda estudos medicinais mostrando os benefícios da castanha de caju para a saúde, estudos científicos para a prevenção de doenças, em especial as doenças cardiovasculares.
Dois pontos importantes do acordo são o apoio à produção mundial da castanha de caju e um estudo de mercado visando um equilíbrio entre a oferta e a demanda global.
O documento foi assinado entre o Sindicaju, a FAO, o INC, associações de países produtores, exportadores Associação dos Exportadores de Castanha de Caju da Índia, Associação dos Processadores e Exportadores de Castanha de Caju do Vietnã e duas principais multinacionais compradoras e consumidoras de castanha de caju no mundo. A Kraft Foods, nos Estados Unidos, e a Intersnack, na Holanda.
Durante a reunião para assinatura do acordo, o Sindicaju anunciou a presença das empresas brasileiras em caráter definitivo como compradoras da safra africana. Isso porque também estava presente a Associação Africana (African Cashew Inciative), formada a partir de doações e suporte da Fundação Bill Gattes.
A divulgação dos estudos e pesquisas em publicações científicas, congressos e outros eventos vão contribuir para a elevação do consumo da castanha de caju. Foi isso que ocorreu, por exemplo, com a amêndoa (almond) que é a mais consumida no mundo hoje graças ao destaque apresentado em dietas benefícas como a Mediterrânea. O protocolo vai procurar replicar o modelo de sucesso que foi desenvolvido em setores de nozes na Califórnia (EUA) e Austrália e que trouxeram benefícios para as nozes cultivadas naqueles países.
A amêndoa da castanha de caju é a segunda mais consumida no mundo, numa cesta de dez amêndoas, como pistache, castanha do Pará, avelã,noz macadâmia e amendoim, dentre outras.


De acordo com o presidente do Sindicaju, com a assinatura desse protocolo, a castanha de caju passa a receber um tratamento com visão global focando no meio ambiente, na empregabilidade, na importância social, nos benefícios que esta amêndoa promove para a saúde humana, para a prevenção de doenças.
O protocolo também prevê um equilíbrio entre a oferta e a procura mundial, daí a importância da participação das entidades representativas dos maiores produtores Índia, Vietnã e Brasil e também dos maiores consumidores mundiais, além dos maiores organismos normativos e reguladores, como a FAO, que lida com segurança alimentar.
O presidente do Sindicaju diz que no ambiente brasileiro continuam as preocupações com a carga fiscal (impostos), a burocrácia, e o câmbio apreciado que vão continuar sendo os grandes inimigos.
“Mas, apesar de tudo isso, a iniciativa privada está fazendo a sua parte”, completa Carneiro, acrescentando que o protocolo cria três comitês científicos e um deles será no Brasil, em São Paulo. (Fonte: Artumira Dutra, Jornal O Povo)

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